Escrito por Raffaele Ventieri Neto |
Enfim a Inspeção Veicular Ambiental já é uma realidade. Isso é muito bom! Trata-se de uma necessidade dos grandes centros urbanos, pela baixa qualidade do ar, e ainda uma ótima oportunidade para a reparação automotiva. Não é difícil imaginar o motivo de muitos reparadores já não acreditarem mais na Inspeção Veicular, quando tomamos como referência as datas de criação das principais Resoluções do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) para motores Ciclo Otto e Ciclo Diesel: Resolução 7 para Ciclo Otto: 31 de agosto de 1993 e Resolução 251 para Ciclo Diesel: 12 de janeiro de 1999. A leitura dessas resoluções é muito importante. Temos informações importantes sobre a metodologia adotada nos Centros de Inspeção, limites válidos para emissões e muito mais. O reparador deverá instruir corretamente os proprietários dos veículos para evitar surpresas. Agora vamos direto ao assunto. Focaremos na Inspeção Veicular Ciclo Otto. Para os veículos movidos à gasolina, álcool, GNV ou flex o equipamento utilizado é um analisador de gases do tipo infravermelho. Ele é capaz de medir quatro ou cinco gases com o uso de uma sonda coletora instalada no escapamento. São eles: HC – Hidrocarbonetos: Combustível que não foi queimado. O HC para veículos a gasolina e GNV deve estar abaixo de 700 ppm; já para os veículos a álcool e flex deve ficar abaixo de 1100 ppm. O2 – Oxigênio: Indicador de mistura pobre. O oxigênio servirá apenas para o diagnóstico do motor, afinal não é um gás tóxico. Sua presença no escapamento é resultado de uma combustão parcial. Vale lembrar que em uma combustão perfeita, só teríamos H2O (água) e N2 (nitrogênio) e CO2 (dióxido de carbono) no escapamento dos veículos. CO – Monóxido de Carbono: Indicador de mistura rica, também é resultado de uma combustão parcial. A nossa legislação adota o valor de CO corrigido e fixa limites por faixa de ano de fabricação. Para termos uma referência, a partir de 1997 todos os veículos devem emitir abaixo de 1%, já para os veículos fabricados até 1979 o limite é 6%. CO2 – Dióxido de Carbono: Indicador de eficiência da combustão. Sua leitura deve ser superior a 12%. Poderíamos dizer que quanto maior o CO2 lido, melhor; mas esse gás é um grande vilão para o efeito estufa, porém na análise das emissões, quanto mais CO2, maior é a eficiência da combustão, automaticamente, menor será o consumo de combustível, melhor será o rendimento geral e menor será a emissão dos altamente tóxicos: HC e CO. Procure trabalhar sempre abaixo dos valores limites estabelecidos. Imagine a situação onde o veículo saía da oficina com as emissões próximas dos limites e o dono do carro, antes de realizar a inspeção oficial, abasteça com combustível adulterado! O veículo poderá ser reprovado e o pior: você poderá ser responsabilizado. NOx – Óxidos de Nitrogênio: a formação desse gás se dá em condições de temperatura elevada na câmara de combustão. A nossa legislação não exige a leitura do NOx. Para tal, seria necessária a utilização de um dinamômetro, pois o veículo precisa estar em carga para emissão desse gás. A instalação de um sensor para leitura de NOx é opcional em um analisador de gases. Vocês observaram que citamos de uma forma bem direta o que os gases CO, CO2 e O2 indicam. Já para o HC cabe um comentário: Um valor alto de HC pode indicar mistura rica ou mistura pobre. Para ficar mais fácil, sempre avalie o valor de HC em paralelo aos valores de CO e O2. Tenha sempre em mente a tabela: HC alto e CO baixo = mistura pobre. HC alto e CO alto = mistura rica. Para auxiliar na avaliação das emissões e nos fatores que podem interferir em uma medição, como um furo no escapamento, o programa do analisador de gases também exibe mais duas medições: CO corrigido e Diluição. O valor de Diluição, pela legislação, sempre deve estar acima de 6%. Essa leitura, nada mais é que a soma do valor de CO + CO2. O valor de CO corrigido está diretamente relacionado ao valor de CO lido, porém com uma correção em função do valor da Diluição. Para facilitar, quanto mais próximo de 15% for o valor de CO2 (queima eficiente e sem entrada de ar no escapamento), o valor de CO corrigido ficará mais próximo ao valor de CO lido. Em um Centro de Inspeção, um veículo com Diluição abaixo de 6% será reprovado de forma direta. Caso os valores de CO corrigido e HC fiquem acima do permitido no primeiro teste, o veículo terá uma nova chance logo na seqüência. Para permitir a realização automática de algumas rotinas exigidas pelas legislações, como registrar medições de gases em marcha lenta e medidas a 2500 rpm, os analisadores também dispõe de sensores para medição de rotação e temperatura do motor. Lembrando que as medições devem ser realizadas com os veículos em sua temperatura normal de trabalho. Outro valor exibido no programa de um analisador de gases é o fator lambda, que ajudará na interpretação rápida da mistura ar/combustível: • valores acima de 1: indicam mistura pobre; • valores abaixo de 1: indicam mistura rica; • valor igual a 1: temos a condição de mistura estequiométrica ideal. A legislação brasileira indica a realização de uma inspeção visual prévia em alguns itens antes de realizarmos a análise de emissões. Fique atento, pois nas condições abaixo o veículo será imediatamente rejeitado em um centro de inspeção veicular: vazamentos aparentes, vazamentos ou alterações no escapamento (ausência do catalisador), marcha-lenta irregular, emissão de fumaça visível e ausência de componentes de controle de emissões (cânister, válvula de purga do cânister, válvula EGR etc.). Para preservar a vida útil dos filtros do seu analisador, não realize medições em um veículo com emissão visível de fumaça, pois, literalmente é desperdício de tempo. Os veículos adaptados para GNV devem ser testados no combustível original e no GNV. Pelo fato do kit ser adaptado, ou seja, o veículo originalmente não oferece todas as condições mecânicas e eletrônicas para seu melhor aproveitamento, pode acontecer das emissões ficarem acima em relação ao combustível original. O analisador de gases é uma poderosa ferramenta para o diagnóstico de falhas mecânicas e elétricas e não devemos limitá-lo ao procedimento de inspeção ou pré-inspeção nas oficinas. Ele emitirá verdadeiros laudos, comprovando a qualidade dos serviços que você oferece. Experimente realizar uma leitura dos gases ao receber o veículo, antes de realizar um serviço tradicional de limpeza de injetores e troca de velas e cabos, e realize outra leitura com o serviço concluído. Será possível demonstrar a eficiência do que foi feito com poucas palavras. Todo analisador de gases exige manutenção periódica, por isso opte por um equipamento homologado pelo Inmetro e que tenha os filtros e o sensor de oxigênio localizados na parte externa do equipamento. Dessa forma, você mesmo poderá realizar a troca desses itens, evitando ficar dias sem trabalhar. O analisador de gases é um dos passaportes para a Inspeção Veicular Ambiental, mas não se esqueça: o outro passaporte é o seu conhecimento. |
terça-feira, 10 de agosto de 2010
O analisador de gases e a inspeção veicular ambiental
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário